Brasil tem primeira deflação em dois anos, mas alimentos ficam mais caros

Queda de preços foi sentida por quem ganha mais, com redução principalmente no preço da gasolina; alimentação seguiu em alta e pesa cada vez mais para os mais pobres.

A primeira deflação do país aconteceu em julho deste ano, após mais de dois anos de inflação em alta, segundo os resultados apresentados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados nesta terça-feira (9).

A deflação apresentada veio a reboque de preços administrados, como combustíveis e energia – mas registrou mais uma aceleração dos preços de alimentos.

Dentre os 13 itens da cesta básica, 12 tiveram alta na janela de 12 meses do indicador de preços medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A situação é preocupante pois são produtos essenciais e que impactam de forma relevante as camadas mais pobres da população.

Segundo a última Pesquisa de Orçamento Familiar, divulgada pelo IBGE em 2019, as famílias que ganhavam até R$1,9 mil gastavam mais de um quinto (22%) de sua renda com alimentação. Já entre as pessoas com a renda mais alta, os gastos com comida representavam 7,6% do orçamento.

Deflação concentrada
O grupo de alimentação e bebidas teve o maior impacto de alta nos preços: 1,30% de alta em julho, que representou 0,28 ponto percentual do IPCA final.

O economista da LCA Consultores,  Fábio Romão, projeta uma alta dos alimentos para 2022 de 14,2%, repetindo o arranque de 2020, quando a pandemia do coronavírus desestabilizou o mercado e trouxe pressão para o setor.

“A guerra da Ucrânia trouxe um novo desarranjo para as cadeias logísticas, o dólar continua muito alto e favorecendo exportações, e mais uma vez houve questões climáticas que prejudicaram as safras”, diz Romão.

“Esse alívio da gasolina beneficiou mais a classe média. Mesmo o diesel ainda não recuou e não barateou os fretes. As famílias para as quais a alimentação pesa muito continuam penalizadas”, avalia.

Por ora, a deflação ficou concentrada em reduções no grupo de Transportes (-4,51%) e de Habitação (-1,05%). Só o primeiro grupo foi responsável por derrubar o IPCA em 1 ponto percentual.

A gasolina, sozinha, teve impacto negativo de 1,04 ponto percentual no IPCA, resultado da instauração de um teto para as alíquotas de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) e de reduções de preços nas refinarias definidos pela Petrobras.

A energia elétrica residencial (-0,24 ponto percentual no IPCA) também se beneficia do recuo das tarifas para a bandeira verde e pela aprovação, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), das Revisões Tarifárias Extraordinárias de dez distribuidoras espalhadas pelo país.

São os primeiros efeitos da diminuição dos impostos em ano eleitoral, estratégia adotada pelo governo e pelo Congresso para reduzir parte dos preços.

Mas, como mostrou reportagem recente do g1, as medidas para limitar os tributos sobre combustíveis, por exemplo, podem até conter a inflação em 2022, mas devem pressionar os preços em 2023.

“No médio prazo, essa medida tem impactos diretos sobre a inflação. Como o projeto se encerra em dezembro de 2022, em janeiro de 2023, os preços dos combustíveis voltarão a subir. Com a perda de arrecadação e compensação aos estados, o cenário fiscal tende a se deteriorar”, disse o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung.

Para os analistas, as medidas de contenção de preços comprometem as contas públicas e despertam novos receios do mercado financeiro de que o país pode perder controle do seu endividamento, o que afugenta investimentos, desvaloriza o real e desacelera o crescimento.

Para o ministro da Economia, Paulo Guedes, as ações do governo serão financiadas pelo aumento da arrecadação, que tem sido beneficiada pela reabertura da economia e uma conjuntura internacional que elevou os preços das commodities.

Fonte: https://www.contabeis.com.br/noticias/52596/ipca-tem-deflacao-de-0-68-em-julho-mas-alimentos-sobem/?utm_source=destaque&utm_medium=principal&utm_campaign=Home